Uso racional da profilaxia de lesão aguda da mucosa gástrica na unidade de terapia intensiva sem comprometer a segurança do paciente: um estudo de coorte
DOI:
https://doi.org/10.30968/jhphs.2025.162.1290Resumo
Introdução: A lesão aguda da mucosa gástrica representa um risco significativo de sangramento gastrointestinal em pacientes internados na unidade de terapia intensiva (UTI). A profilaxia é frequentemente utilizada, mas seu uso indiscriminado pode causar efeitos adversos. Objetivo: Avaliar a efetividade e a segurança de um protocolo racional para a profilaxia de lesão aguda da mucosa gástrica (LAMG) em pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI), com base em critérios clínicos de risco. Método: Estudo observacional retrospectivo com duas coortes de pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI): coorte 1 (Janeiro a dezembro de 2021), antes da implementação do protocolo, e coorte 2 (janeiro a dezembro de 2022), após sua adoção. O protocolo recomendava a prescrição de IBPs apenas para pacientes com fatores de risco absolutos, como ventilação mecânica sem nutrição enteral, coagulopatia ou doença hepática, conforme os critérios clínicos propostos por Ye et al. (2020). A exposição avaliada foi a implementação do protocolo, o desfecho primário foi a taxa de uso de IBPs, e os desfechos secundários foram hemorragia digestive alta (HDA), pneumonia associada à ventilação mecânica e infecção por Clostridioides difficile. O tempo de seguimento correspondeu à permanência dos pacientes na UTI. Resultados: Um total de 1.614 pacientes foi incluído, sendo 641 no grupo pré-exposição e 973 no grupo pós-exposição. Não houve diferença entre os grupos em relação à idade, sexo, gravidade da doença, comorbidades prévias ou uso de terapias intensivas. Os resultados indicaram uma redução significativa no uso de IBPs, de 51% no grupo pré-exposição para 40% no grupo pós-exposição (P < 0,001). Além disso, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos nos desfechos clínicos avaliados, incluindo diagnóstico de sangramento gastrointestinal, complicações respiratórias, infecções associadas aos cuidados de saúde, duração da ventilação mecânica, tempo de internação hospitalar ou mortalidade. Conclusão: Conclusão: O protocolo para o uso racional de IBPs foi eficaz na redução do uso desses medicamentos sem comprometer a segurança e os desfechos clínicos dos pacientes na UTI. Estes resultados devem ser confirmados por estudos randomizados controlados.
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